O desafio
Existem diversos desafios para que equipe gestora e docentes possam garantir o direito à alfabetização na idade certa, como a falta de recursos adequados na unidade escolar, a necessidade de formação continuada de docentes, o baixo envolvimento da família no processo educacional e a diversidade de níveis de aprendizagem entre estudantes da mesma série. Foi sobre esse último aspecto que a escola se debruçou, a partir do que viveu anteriormente com a recomposição da aprendizagem, com a avaliação diagnóstica interna e com a criação de oficinas alfabetizadoras.
A avaliação diagnóstica interna constatou que 70% da turma do 2º ano não eram leitoras(es) e grande parte não identificava as letras do alfabeto. O 5º ano também apresentou resultados abaixo do esperado: quase 50% das(os) estudantes eram apenas leitoras(es) de palavras, mesmo estando no último ano do Ensino Fundamental I. Os achados desse diagnóstico foram comparados com os resultados de outras escolas do município, confirmando a necessidade de ações para que as próximas turmas tivessem garantido o direito à alfabetização na idade certa.
A escola que inspirou a prática
- Escola Municipal Clube de Mães
- Ensino Fundamental I – 2º e 5º anos
- Escola urbana com 284 estudantes e 13 docentes
- Ano de referência – 2023
- Município de Camaçari (BA)
Esta prática é inspirada na entrevista com Tatiane Ribeiro sobre sua experiência em gestão escolar. Agradecemos a Tatiane por compartilhar conosco iniciativas realizadas na escola para a melhoria da aprendizagem.
A solução
Para lidar com a diversidade, a equipe gestora, com o apoio da secretaria de educação e das técnicas da Diretoria Pedagógica (Dipe), incentivou a adoção de estratégias pedagógicas diferenciadas, como o ensino personalizado por meio de oficinas, que permitiram atender às necessidades individuais. O acompanhamento contínuo do progresso de cada uma(um) em sala de aula e as intervenções pedagógicas específicas para aquelas(es) que apresentavam dificuldades, como as oficinas alfabetizadoras, foram fundamentais.
O ensino personalizado e individualizado foi pautado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que reconhece a aprendizagem significativa como um meio de formar estudantes capazes de desenvolver sua ética, reflexão e humanização, além de orientar equipe gestora e docentes para que considerem e valorizem conhecimentos prévios de estudantes, ainda que pareçam insuficientes.
Principais resultados
- 87% das(os) estudantes do 2º ano sabiam ler (antes das oficinas, apenas 30% da turma era leitora).
- 90% das(os) estudantes do 5º ano liam frases (antes das oficinas, quase 50% liam apenas palavras).
- Participação ativa das famílias (98% delas permitiram que suas/seus filhas/os ficassem na escola no contraturno).
Passo a passo para estruturar um ensino personalizado e individualizado
- Realize uma avaliação diagnóstica interna, com prova escrita, contendo questões dissertativas, de leitura e múltipla escolha. Cruze os resultados com a avaliação de entrada feita pela secretaria de educação do município e a prova Saeb, para identificar o nível de alfabetização de cada estudante. Utilize ferramentas de avaliação variadas, como observações em sala de aula e análises de trabalhos realizados pelas(os) estudantes.
- Ofereça formação continuada às(aos) docentes sobre estratégias de ensino personalizado e individualizado. Para essa etapa, você poderá contar com o apoio da secretaria de educação do município ou organizar reuniões internamente com foco nessa temática: encontros e palestras com especialistas em alfabetização e educação personalizada, reuniões para que as(os) docentes compartilhem suas práticas ou elaborem projetos comuns etc.
- Sugira às(aos) docentes estratégias para realizar em sala de aula: 1. Organização da sala em “estações” – estudantes passam por cada uma delas e completam as tarefas sugeridas, sempre uma mais desafiadora do que a outra, classificadas por níveis de dificuldade. Cada estudante pode passar mais tempo na atividade que lhe parecer desafiadora e ser mais rápida(o) nas anteriores; 2. Agrupar, de forma intencional, as(os) estudantes e propor tarefas distintas; 3. Agrupá-las(os) de forma heterogênea, se já houver a prática de se ajudarem, para que se apoiem e sigam uma sequência de atividades cada vez mais desafiadoras, com especial atenção às(aos) estudantes com mais dificuldade. Clique aqui e saiba mais sobre “personalização do ensino”.
- Apoie as(os) docentes na elaboração de planos de ensino individualizados (PEI) que atendam às necessidades específicas de cada estudante. Incentive as(os) docentes a estabelecerem metas claras e mensuráveis para monitorar o progresso de cada uma(um). Não se esqueça de acompanhar esse processo, dando devolutivas, e de estimular as trocas entre pares.
- Defina estratégias, que podem ser oficinas alfabetizadoras estimulantes, como a de gamificação, em que estudantes aprendem enquanto jogam.
- Crie ações de conscientização e sensibilização, como reuniões e rodas de conversa, para que docentes se engajem na proposta, vencendo possíveis resistências à mudança de rotina e de demandas cotidianas.
- Repense e reorganize o funcionamento da escola para viabilizar as atividades: grade de aulas das(os) estudantes envolvidas(os) nas ações, espaços para a execução das atividades (laboratórios, biblioteca, quadra, sala de informática), distribuição da merenda etc.
- Adapte as metodologias adotadas ao contexto das(os) estudantes, valorizando saberes, participação e realidades, de forma a acompanhar o desenvolvimento de cada uma(um) e garantir a alfabetização na idade certa. Utilize um questionário de complementação dos dados de estudantes para, assim, conhecê-las(os) melhor.
- Envolva as famílias no processo de alfabetização. Organize encontros regulares para compartilhar o progresso das(os) estudantes e oferecer dicas de como podem contribuir para o aprendizado.
- Estabeleça um sistema de monitoramento contínuo do progresso das(os) estudantes, com avaliações regulares e feedback constante, sempre registrados para formar um histórico.
- Crie um ambiente de escuta inclusiva para docentes e estudantes, promovendo um clima escolar positivo e motivador.
- Realize uma avaliação periódica da aprendizagem para identificar o que está funcionando e o que precisa ser ajustado. Faça reuniões regulares com docentes e use os dados coletados para ajustes contínuos no plano de ensino e nas estratégias utilizadas, conforme necessário.
A equidade na rotina da escola
- O ensino personalizado e individualizado permite que as necessidades de cada estudante sejam percebidas, assim como suas potencialidades. Dessa forma, aquelas(es) que integram grupos historicamente excluídos, e que enfrentam as desigualdades educacionais, terão a oportunidade de acessar ações e estratégias diferenciadas para avançar e alcançar os níveis de aprendizagem esperados para cada etapa de ensino, devidamente alfabetizadas(os).
Desafios enfrentados
- Resistência de docentes para realização da formação continuada e/ou planejamento dos planos de ensino individualizados (PEI) ou, ainda, a adotar novas estratégias pedagógicas.
- Lidar com diversidade de habilidades e de níveis de aprendizagem na sala de aula exige estratégias pedagógicas diversificadas e adaptativas, o que pode ser desafiador para docentes e demandar muito tempo de seu trabalho.
- Envolver familiares no processo educacional pode ser desafiador, especialmente em comunidades onde as(os) responsáveis podem não ter tempo, recursos ou conhecimento para apoiar a alfabetização de suas(seus) filhas(os).
- Garantir a continuidade e sustentabilidade das iniciativas de alfabetização exige um compromisso de longo prazo entre equipe gestora, docentes, estudantes e famílias.
Materiais de referência
- Avaliação diagnóstica interna – 2º ano
- Avaliação diagnóstica interna – 5º ano
- Roteiro de observação subjetiva
- Guia para organizar círculos de conversa
- Comunicação não violenta
- Questionário para complementação de dados das(os) estudantes
- Marcadores de desigualdade educacional
- Matriz de práticas do Centro Lemann
Comunidade escolar envolvida
- Docentes
- Estudantes
- Equipe gestora
- Famílias
- Secretaria de educação
Para saber mais
Esta prática contribui para o acompanhamento do planejamento docente, observação das aulas e interações entre professoras(es) e estudantes, analisa resultados de aprendizagem em conjunto com o corpo docente e dá devolutivas estruturadas (coletivas e individuais) para garantir estratégias adequadas à promoção do desenvolvimento integral de cada aluna/o (clique e saiba mais).