O desafio
No retorno às atividades presenciais, depois da pandemia da Covid-19, equipe gestora e docentes perceberam que estudantes cuja aprendizagem foi mais impactada por essa situação eram do Ensino Fundamental I, na fase da alfabetização.
A escola se aprofundou sobre a situação e a história das(os) estudantes, para entender o contexto de cada uma(um), com atenção aos marcadores sociais de desigualdade, por meio de reuniões e conversas individuais com famílias e alunas(os). Detectou-se que estudantes de grupos minorizados historicamente, especialmente negras(os) e com baixo nível socioeconômico, foram as(os) que mais sofreram as consequências da pandemia, na educação e na vida pessoal.
O envolvimento da família se mostrava essencial para completar o diagnóstico e, também, para que crianças e adolescentes pudessem receber o apoio necessário no seu processo de aprendizagem. Dessa forma, foi possível mapear em quais situações cada estudante se encontrava: se houve morte/doença e/ou desemprego na família, por exemplo, garantindo um levantamento mais preciso e real.
A escola que inspirou a prática
- Centro de Educação Básica Maria Pereira Brandão
- Ensino Fundamental I e II – 2º ao 9º ano
- Escola urbana com 425 estudantes e 40 docentes
- Ano de referência – 2023
- Município de Cruz (CE)
Esta prática foi inspirada na entrevista com Eveline Capistrano sobre sua experiência em gestão escolar. Agradecemos a Eveline por compartilhar conosco iniciativas realizadas para a melhoria da aprendizagem.
A solução
Para obter o apoio e a participação das famílias nesse processo de recuperação da aprendizagem, além de reuniões regulares, a escola criou espaços de diálogos individuais e em grupos como estratégias de convivência e estreitamento de vínculos, por meio de atividades dentro e fora da escola.
Principais resultados
- Observação, por parte de docentes e equipe gestora, da melhora do desempenho acadêmico e socioemocional de estudantes, pois se beneficiam de um ambiente de apoio em casa e na sala de aula, resultando em maior engajamento das(os) alunas(os), melhor frequência escolar, maior motivação para aprender e um clima escolar positivo.
- Aproximação entre escola e família permitiu a percepção e o entendimento da realidade de cada estudante, favorecendo uma atuação mais assertiva para trazê-la(o) de volta à sala de aula.
Passo a passo para mobilização das famílias com foco na aprendizagem
Preparação e monitoramento da mobilização das famílias
- Faça um levantamento das(os) estudantes com baixa aprendizagem e de como é a relação da escola com essas famílias.
- Realize um planejamento coletivo de ações com a equipe gestora, para envolver especialmente essas famílias, estabelecendo prazos e responsáveis.
- Tenha em mãos o perfil das famílias e o mapeamento dos territórios onde moram para identificar dificuldades e possíveis motivos que afetam a aprendizagem: problemas de saúde, perda de emprego, violência doméstica, entre outros. Esses dados podem ser levantados pela escola em um questionário enviado às(aos) responsáveis para preenchimento, ou nas conversas individuais.
- Realize reuniões mensais com a equipe escolar para avaliar as ações e, caso necessário, replanejá-las.
- Acompanhe, por meio de monitoramento e avaliação, os resultados das ações implementadas. Defina com a equipe docente ferramentas específicas – diário de classe, atas de reuniões e conversas do “plantão pedagógico” – e metas a serem cumpridas (“x” famílias envolvidas, “x” famílias que participaram das reuniões, “x” famílias que vão aos passeios). Compare esses dados com resultados de aprendizagem para avaliar se as iniciativas estão favorecendo o desenvolvimento das(os) alunas(os).
- Garanta que as famílias tenham conhecimento sobre os encontros e as reuniões que acontecem na escola, implementando uma gestão democrática e a cultura de corresponsabilização. Utilize diferentes canais de comunicação (cartazes, mensagens de WhatsApp, recados enviados pelas/os estudantes).
- Analise o envolvimento da família com base nos marcadores de desigualdade educacional: gênero, raça, cor, território, nível socioeconômico e deficiência. A baixa aprendizagem impacta mais estudantes de grupos historicamente minorizados.
Sugestões de ações para realizar com as famílias
- Plantão pedagógico: gestão convida a família de cada estudante com baixa aprendizagem para conversas individuais. Exponha a situação de maneira respeitosa e compartilhe as ações que estão sendo pensadas para a melhoria da aprendizagem. É importante ouvir as(os) responsáveis, entender se compreendem a dificuldade da criança/adolescente.
- Disque família: para acompanhar a frequência das(os) estudantes e manter contato da escola com responsáveis, a fim de entender por que a(o) estudante faltou no dia e como a escola pode apoiar no retorno às atividades.
- Pais fora da caixa: levar as(os) responsáveis para uma atividade de lazer e de interação que dialogue com temas ligados à aprendizagem das(os) estudantes e importância da escola. Dessa maneira, a família compreende a escola como um local importante e seguro para a formação do indivíduo. Para viabilizar essa ação, a equipe gestora pode contar com recursos da secretaria, quando possível, ou contribuição e parcerias estabelecidas pela comunidade escolar, docentes e funcionárias(os).
- Encontros com diferentes temáticas: planeje com as(os) docentes encontros para famílias e responsáveis, com temáticas não apenas sobre a aprendizagem. Por exemplo, gestão do orçamento doméstico, formas de educar sem violência etc.
A equidade na rotina da escola
- Conhecer as famílias e suas realidades ajuda a compreender melhor a(o) estudante, seus desafios e suas potencialidades. Uma escola inclusiva pode usar esse conhecimento para rever práticas pedagógicas que atendam a necessidades específicas individuais e de grupos de estudantes, envolvendo as(os) responsáveis para acompanhar o processo de aprendizagem. Todas(os) serão contempladas(os), criando um ambiente mais equânime na sala de aula e na escola.
Desafios enfrentados
- Falta de compreensão de algumas famílias sobre a importância da escola na vida das(os) estudantes.
- Algumas(ns) responsáveis semianalfabetas(os) e/ou parte de uma geração em que a escola não era prioridade, o que dificulta o convencimento sobre a importância da aprendizagem.
Comunidade escolar envolvida
- Estudantes
- Docentes
- Liderança escolar
- Famílias
Para saber mais
Esta prática contribui para o acompanhamento pedagógico sistêmico, pois faz bom uso do sistema de acompanhamento e avaliação da aprendizagem e do desenvolvimento integral da sua rede de educação, de forma a identificar como está avançando em relação a objetivos pedagógicos e parâmetros de qualidade e equidade, bem como realizar as intervenções necessárias para garantir os resultados educacionais esperados para cada uma(um) de suas(seus) estudantes, especialmente aquelas(es) em situação de maior vulnerabilidade (clique e saiba mais).