O desafio

Mesmo antes da pandemia da Covid-19, a infrequência já era uma situação que a escola enfrentava e que ampliava os índices de evasão e abandono escolares.

No final de 2021, a escola participou da avaliação do Saeb. Porém, não obteve êxito, pois não alcançou os 80% de estudantes presentes no dia da prova, o que também comprometeu o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), deixando a escola sem nota e a equipe escolar abalada.

Em 2022, com o retorno às aulas presenciais, a gestão identificou um alto índice de infrequência: 50% das(os) estudantes não compareciam à escola com assiduidade.

Não havia uma situação intencional e coordenada da liderança escolar e de docentes para solucionar esses desafios; algumas(uns) professoras(es), inclusive, achavam que essa tarefa não cabia a elas(es). Foi necessário estimular toda equipe para que assumisse o seu papel na transformação dessa realidade.

A escola que inspirou a prática

  • Escola Municipal Profª Ilda Leal Ulm da Silva/Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (Caiac)
  • Ensino Fundamental I – 1º ao 5º ano
  • Escola urbana com 339 estudantes e 15 docentes
  • Ano de referência – 2023
  • Município de Camaçari (BA)

Esta prática foi inspirada na entrevista com Valdelaine de Jesus da Cruz sobre sua experiência em gestão escolar. Agradecemos a Valdelaine por compartilhar conosco iniciativas realizadas para a melhoria da aprendizagem.

A solução

Equipe gestora empoderou docentes, desenvolvendo coletivamente ações e estratégias que sensibilizassem as famílias, com os objetivos de trazer e manter suas(seus) filhas(os) na escola.

Principais resultados

  • A equipe docente compreendeu que a prioridade são as(os) estudantes e as aprendizagens.
  • Houve maior aproximação entre equipe gestora e docentes.
  • A aproximação de docentes e gestão com as turmas de estudantes possibilitou acompanhar o desenvolvimento e a aprendizagem de cada uma(um) de forma mais efetiva.
  • Ao final de 2023, dos 339 estudantes, apenas um foi reprovado por infrequência, e a escola participou novamente da avaliação do Saeb, que acontece a cada dois anos, obtendo resultado positivo e média 5,7, um avanço de 0,4 pontos em relação à 2019, que foi de 5,3.
  • A construção coletiva das ações escolares fortaleceu a gestão democrática.

Passo a passo para mobilização da equipe gestora e docentes no enfrentamento da infrequência escolar

Planejamento para mobilização da equipe escolar 

  • Evidencie para as(os) docentes, nas reuniões de planejamento, que elas(es) têm papel fundamental no enfrentamento da infrequência para mitigar o abandono e a evasão escolares, por meio de dados e fatos colhidos no dia a dia (número de estudantes infrequentes em determinado período, justificativas das/os responsáveis, depoimentos das/os discentes etc.). Deixe claro que a solução para esses desafios, e para a melhoria da aprendizagem, só terá sucesso se implementada em parceria com a equipe gestora e com instituições da rede de assistência e cuidado.
  • Faça reuniões mensais da equipe gestora com docentes, a partir das avaliações diagnósticas do município e da escola, para definir estratégias de superação da infrequência.
  • Planeje ações de conscientização da equipe sobre a importância da busca ativa (clique aqui e saiba mais) com olhar cuidadoso para a equidade, considerando gênero, raça, cor, nível socioeconômico, território e deficiência. Por exemplo, detectar, na chamada em sala de aula, quais alunas(os) mais se ausentam e de que grupo fazem parte, entre os marcadores, para apoiar o trabalho da gestão no momento de abordar as famílias.
  • Estabeleça com as(os) docentes metas possíveis de redução da infrequência e do abandono escolar (diminuir em “x%” a infrequência em “x” meses), para fortalecer o senso de responsabilidade e envolvimento coletivo.

Estratégias para mobilização da equipe gestora e docentes

  • Oriente as(os) docentes sobre a importância de executar campanhas de mobilização para incentivar a presença das(os) estudantes, a fim de que disponibilizem tempo e dedicação às ações propostas.
  • Conheça cada docente, suas aspirações e seus sonhos. Você pode fazer isso em um momento da reunião de planejamento, para que falem sobre si e de expectativas na escola e vida pessoal. Essa ação pode estreitar vínculos e mostrar à equipe que cada uma(um) é importante e única(o).
  • Crie espaços de diálogo e trocas, a partir de uma comunicação inclusiva, para que docentes possam sugerir iniciativas, a fim de que assumam o protagonismo de algumas ações. Podem ser reuniões em grupo, conversas individuais e grupos no WhatsApp.
  • Estimule cada docente a ter um olhar atento aos marcadores de desigualdade educacional e um cuidadoso acompanhamento da frequência das(os) estudantes todos os dias, utilizando o “diário de classe” e/ou outra ferramenta, como quadro de presença colado na sala de aula, com registros diários das(os) estudantes. Oriente a compartilhar com a coordenação pedagógica os dados da infrequência, que serão levados à(ao) diretora(or), evitando o abandono e a evasão.

Ações para mobilização da liderança escolar (equipe gestora e docentes)

  • Desenvolva, com docentes, programas de incentivo à presença das(os) estudantes, por exemplo, Aluno Nota 10 – aquelas(es) que não faltam e, por essa razão, ganham uma “estrelinha”; reconhecimento público mensal, quando a(o) docente conta para toda a sala quais estudantes não se ausentaram. Mas atenção: ações de reconhecimento devem vir junto com um olhar atento para quem não conseguiu chegar lá, é preciso entender o que está causando as faltas nesses casos e garantir que essas(es) estudantes sejam apoiadas(os) para superar essas barreiras, sem se sentirem incapazes ou injustiçadas(os). 
  • Implemente campanhas do núcleo gestor, como a da Frequência Nota 100. Todas(os) as(os) estudantes que não tiverem falta durante o mês participam do sorteio de uma cesta básica (adquirida com recursos existentes na escola, doação de comércios da região ou por meio da colaboração de professoras/es, equipe gestora e funcionárias/os). Faça convites especiais às famílias de estudantes homenageadas(os), com o objetivo de reforçar a importância da educação e de seus benefícios para suas/seus filhas/os (vale aqui o mesmo cuidado mencionado na ação anterior!). 
  • Oriente docentes a oferecerem autonomia às(aos) estudantes para que controlem sua frequência: a(o) professora(or) faz a chamada e cada estudante marca no “cartaz da rotina” a sua presença. 
  • Forneça ​​capacitação às(aos) docentes sobre como identificar sinais de infrequência, por exemplo, duas faltas consecutivas ou faltas frequentes nos mesmos dias da semana, para entenderem as possíveis causas e abordar os desafios de maneira eficaz.  
  • Identifique docentes com experiências bem-sucedidas em sala de aula, que resultaram na maior frequência das(os) estudantes. Reserve uma reunião para que possam expor suas práticas, compartilhando-as com as(os) colegas. 

Acompanhamento das ações de mobilização da equipe gestora e docentes

  • Realize reuniões mensais com a equipe para avaliar o progresso das ações implementadas e, caso necessário, replanejem as estratégias.
  • Peça às(aos) docentes que sempre monitorem a infrequência com base nos marcadores educacionais – gênero, raça, cor, território, nível socioeconômico e deficiência –, para detectar fragilidades nos índices de presença de estudantes de grupos minorizados. Elabore com a equipe iniciativas focadas nesses grupos. 
  • Utilize as reuniões do Conselho Escolar para compartilhar desafios e avanços na frequência das(os) estudantes. Use dados para indicar como a escola está nesse quesito e estimule as(os) participantes, especialmente docentes, a proporem ações que melhorem a presença das(os) discentes.

A equidade na rotina da escola

  • A infrequência, que pode gerar abandono e evasão escolares, tende a afetar mais crianças e adolescentes de grupos mais vulneráveis, cujas famílias enfrentam diferentes injustiças estruturais. No Brasil, 64,9% das(os) alunas(os) brancas(os) e 42,5% das(os) pretas(os) têm trajetória regular (Soares, Alves e Fonseca. Trajetórias educacionais como evidência da qualidade da educação básica brasileira. In: Guia para realizar um bom diagnóstico da equidade racial, p. 40).
  • É importante ter ações para mitigar as ausências na escola, com foco em estudantes desses núcleos familiares, para que voltem a frequentar as aulas e se sintam apoiadas(os) em sua trajetória escolar. Frequência e aprendizagem caminham juntas, e a primeira acaba por influenciar a segunda. Caberá à gestão e às(aos) docentes terem um olhar diverso e inclusivo para as práticas pedagógicas, a fim de promover o pleno sucesso das turmas.

Desafios enfrentados

  • Resistência por parte de algumas(ns) docentes, por avaliarem que o trabalho de organizar informações sobre frequência para uma busca ativa não faz parte da responsabilidade delas(es) ou porque estão desestimuladas(os) com a carreira e não querem executar nenhuma atividade que esteja fora da sua função de ensinar.
  • Na maior parte das vezes, equipe gestora e docentes compreendem o impacto da infrequência, do abandono e da evasão mais pela observação do que por meio de dados e evidências, essenciais para a tomada de decisão. A falta de uma sistematização que apoie um olhar para a equidade dificulta a definição de soluções que superem a infrequência. 
  • Problemas constantes na linha telefônica da unidade escolar, que dificultam o contato com as famílias.

Comunidade escolar envolvida

  • Docentes
  • Liderança escolar

Para saber mais

Esta prática contribui para o acompanhamento pedagógico sistêmico, pois implementa estratégias e ações voltadas a assegurar as condições de aprendizagem necessárias para que cada estudante conclua sua trajetória escolar com qualidade e no tempo adequado, incluindo mecanismos de controle de frequência, prevenção de repetência, abandono e evasão, além de um processo estruturado de busca ativa, reforço escolar, entre outros, em parceria com a rede de proteção e com especial atenção aos grupos que enfrentam mais desigualdades (clique aqui e saiba mais).