O desafio

A pandemia da Covid-19 gerou um longo período de trabalho remoto realizado pela equipe gestora e docentes. O retorno ao formato presencial foi gradativo, chegando a 100% em 2022. Nesse recomeço, percebeu-se que docentes estavam desmotivadas(os), desinteressadas(os) pelo trabalho, com relações estremecidas e muitos conflitos. Reuniões individuais não estavam surtindo efeito. 

A escola que inspirou a prática

  • Centro de Educação Infantil Dolores Lustosa
  • Educação Infantil
  • Escola urbana com 467 estudantes e 16 docentes titulares
  • Ano de referência – 2023
  • Município de Sobral (CE)

Esta prática foi inspirada na entrevista com Maria Lucilene de Lima sobre sua experiência em gestão escolar. Agradecemos a Maria Lucilene por compartilhar conosco iniciativas realizadas para a melhoria da aprendizagem.

A solução

A gestora tomou a iniciativa de organizar círculos de conversa para motivar a equipe docente e superar o clima desfavorável à aprendizagem. A prática foi iniciada com docentes titulares, responsáveis por fazer a ponte com as(os) auxiliares de classe, professoras(es) substitutas(os) e auxiliares de serviços educacionais (cuidadoras/es) do Atendimento Educacional Especializado (AEE).

Principais resultados

  • Equipe docente mais motivada, coesa e participativa.
  • Docentes de todas as turmas verbalizaram que se sentiram valorizadas(os) com a iniciativa.
  • A atuação na sala de aula ganhou mais entusiasmo, criatividade e alegria.
  • A iniciativa refletiu nas crianças: no último ciclo da Educação Infantil (ciclo 4), a porcentagem de estudantes que alcançou o desenvolvimento de habilidades cognitivas esperadas para essa etapa foi de 55% (dezembro de 2022) para 75% (dezembro de 2023).
  • A metodologia do círculo foi adotada por docentes em suas turmas, com bons resultados na participação e no desenvolvimento das crianças.
  • Liderança escolar e docentes implementaram os círculos de conversa em reuniões com famílias, fortalecendo a relação escola-família. 
  • Segundo as famílias, as crianças queriam ir para a escola e estavam muito empolgadas.
  • O clima escolar positivo foi restaurado, fomentando a equidade.

Passo a passo para organizar círculos de conversa com docentes

Antes da organização do círculo de conversa

  • Observe e acolha sua equipe docente para entender suas necessidades. 
  • Utilize ferramentas e modelos existentes para realizar conversas estruturadas, como o “momento de fala e escuta”.
  • Prepare-se para ouvir sem julgamentos. Liderança escolar e docentes devem estar abertas(os) ao diálogo. 
  • Organize-se para que as trocas aconteçam durante os círculos de conversa, evitando conversas paralelas nos corredores para não gerar mal-entendidos. 

Construção do círculo de conversa

  • Estabeleça uma frequência para que os círculos aconteçam, por exemplo, uma vez ao mês, integrando-os nas reuniões de planejamento ou como temática na formação continuada de docentes, para não criar uma nova agenda. Sugere-se uma duração de 40 minutos a 1 hora.
  • Consulte as(os) docentes para planejar temas e estrutura. Garanta a oportunidade de todas(os) se expressarem. Porém, respeite quem não quiser se pronunciar.
  • Incentive cada professora(or) a contribuir para esse momento e explique o quanto esse espaço é importante.
  • Faça uma autorreflexão e pense em exemplos pessoais para iniciar a conversa, como forma de “quebrar o gelo”.

Aplicação do círculo de conversa

  • Organize o espaço onde a conversa irá acontecer. Crie um ambiente confortável, inclusivo, silencioso e aconchegante (exemplo: almofadas no chão para se sentarem em círculo).
  • Separe um objeto para ser utilizado no momento de fala. Quem estiver com ele nas mãos tem o tempo de fala. Enquanto isso, todas(os) escutam, em silêncio e com atenção.
  • Escolha o objeto, de acordo com o tema que servirá de inspiração para cada círculo (uma caneta, um livro, um chaveiro etc.). Solicite às(aos) docentes que tragam um objeto para ser utilizado naquele momento.
  • Defina quem conduzirá o círculo (monitorar os tempos, encaminhar as respostas às perguntas etc.). A pessoa também deve participar e ser uma inspiração para o grupo.
  • Divida as(os) professoras(es) em grupos menores, se necessário com um objeto de fala e um condutor para cada grupo. Isso facilita a administração do tempo e possibilita que todas(os) se expressem.     
  • Monitore cada participação com um cronômetro.     
  • Inicie o círculo com uma música, um poema, um texto para criar o clima da conversa.
  • Seja clara(o) nas suas expressões e colocações e evite personalizar falas. Lembre-se de que não estão reunidas(os) para julgamentos e acusações, mas para aprendizados e escutas.
  • Consulte as(os) participantes sobre como estão se sentindo e quais suas expectativas para essa conversa.
  • Faça perguntas como: qual problema está afetando a questão “x”? Como superar esse desafio?
  • Pergunte às(aos) docentes como se sentem após a conversa.
  • Encerre o círculo com uma música, um vídeo curto, um poema ou texto motivador.

Após o círculo de conversa

  • Realize reuniões com a liderança escolar para avaliar o processo. No próximo círculo de conversa, apresente essa avaliação ao grupo.
  • Analise, junto à liderança escolar, se estão contempladas questões de gênero, cor, raça, território, nível socioeconômico e deficiência, para entender quais docentes ou grupos de docentes necessitam de mais atenção e de ações complementares ao círculo de conversa.

A equidade na rotina da escola

  • Com a realização dos círculos de conversa, as(os) docentes passaram a compreender melhor o contexto da equipe, gerando empatia e sentido de grupo. 
  • A equipe compreendeu melhor a importância prioritária da aprendizagem das crianças, colocando-a acima de questões burocráticas, processos e opiniões divergentes.
  • A equipe está mais atenta aos marcadores de desigualdade educacional, observando todas as crianças com atenção especial a gênero, cor, raça, território, nível socioeconômico e deficiência.
  • Ao abrir um espaço seguro de fala para todas(os), sem distinção, mesmo as pessoas mais tímidas, reservadas ou de grupos minorizados são beneficiadas com informações e experiências de colegas. Com o tempo, a participação dessas pessoas tende a aumentar.
  • Quando também adotado em sala de aula, o modelo dos círculos de conversa melhorou a observação das crianças e ajudou a identificar aquelas com dificuldade em se expressar, melhorando as relações entre elas e docentes e com as(os) colegas.

Desafios enfrentados

  • Resistência inicial por parte de algumas(uns) docentes (por ser mais uma atividade).
  • Descrença de algumas(uns) docentes na metodologia e em sua efetividade.

Comunidade escolar envolvida

  • Estudantes
  • Docentes
  • Liderança escolar

Para saber mais

Esta prática contribui para o clima favorável à aprendizagem, pois cria mecanismos e espaços pedagógicos harmônicos, seguros e estimulantes à promoção do diálogo horizontal e à escuta qualificada entre os diversos segmentos da comunidade escolar, com o intuito de fortalecer os níveis de confiança e coesão, especialmente entre a equipe gestora e docentes, bem como entre as(os) professoras(es) e as(os) estudantes da escola (clique aqui e saiba mais).